Profissionalização do mercado cultural passa pela aplicação da Ciência da Administração
O Brasil possui uma diversidade cultural como poucos no Mundo. Essa
riqueza cultural reconhecida internacionalmente pode e deve ser uma das
forças motrizes da economia nacional, impulsionando o turismo e outros
setores da economia, fortalecendo a integração nacional, sobretudo em
tempos de globalização, e servindo a infindáveis propósitos de apreensão
do conhecimento e não apenas à indústria do entretenimento, que, aliás,
em uma sociedade que nos exige ao limite, diuturnamente, é mais que
necessário, é imprescindível ao equilíbrio psicossomático do indivíduo e
por conseqüências muito benéficas, o psicossocial da nação.
Os mecanismos de incentivo a cultura ainda hoje, apesar da
incontestável evolução, precisam ser aperfeiçoados para fazer frente às
necessidades e exigências do público, renovando-o por meio da adequação
dos regulamentos ao perfil da nova clientela, possibilitando o
financiamento à pesquisa cultural e histórica no país, visando melhorar e
diversificar os projetos no setor. Além do efetivo cumprimento aos
princípios constitucional-administrativos (art. 37, da CF) nos processos
licitatórios e criando estratégias de enfrentamento à concorrência dos
demais produtos e serviços do mercado cultural e do entretenimento
nacional, visando manter e expandir o setor.
Na esteira das mudanças sócio-econômicas e suas intermináveis
discussões sobre o papel e as responsabilidades dos seus diversos
atores, o mercado cultural brasileiro, sobretudo, o cinematográfico e o
televisivo, vêm passando por uma aceitação no mercado internacional
nunca antes experimentado. Contudo, para aproximarem-se dos números das
grandes produtoras do mercado global é vital que as mais variadas
manifestações culturais que o País possui estejam representadas em tais
obras, o que talvez demore algumas décadas para ocorrer, para agravar
ainda mais a situação, parte significativa da população brasileira,
nunca foi ao cinema, ou talvez tenha ido menos de uma dezena de vezes em
toda sua vida. Se falarmos de outras produções culturais como: o
teatro, a literatura, a música erudita, as artes plásticas ou a dança
clássica, por exemplo, os números são ainda mais cruéis e
impressionantes. Não é raro encontrarmos em universidades espalhadas
pelo Brasil graduandos que nunca foram assistir a uma peça teatral.
Realidade inaceitável para um País que almeja ser reconhecido como
grande nação desenvolvida e deseja ser "ouvido" em questões globais.
O mercado cultural e de entretenimento no Brasil, como em qualquer
parte do mundo vem sofrendo profundas alterações, em função das
restrições impostas pelas sociedades em um processo natural de mudança
evolutiva, como, a proibição do uso de animais nos espetáculos circenses
em diversos municípios brasileiros, exigem da equipe de produção
artística níveis crescentes de criatividade em um cenário cada dia mais
densamente ocupado, disputando o minguado recurso disponível para o
setor. E, elevando ainda mais o nível de confusão, no setor em seus
diversos níveis: pesquisa, elaboração, planejamento, pré-produção,
produção, promoção, divulgação, execução e avaliação de alcance ou
contrapartida, pós-produção, demandam uma complexidade de elaboração e
execução crescentes, com gestão de equipes multidisciplinares compostos
por: atores, diretores, produtores, técnicos áudio e vídeo, costureiras,
fotógrafos, engenheiros, filósofos, historiadores, antropólogos,
sociólogos, artistas plásticos, figurinistas, contadores, assessores de
imprensa, designers, captadores de recursos, marceneiros, enfim, uma
infinidade de profissionais que trabalham diretamente no cerne do
projeto, no intuito de possibilitar a exibição dos espetáculos, além,
dos que trabalham indiretamente ou contribuem informalmente para o
sucesso do mesmo.
Uma atividade que reúne tão diversificada gama de profissionais e que
serve da arte-educação ao entretenimento, passando pelo desenvolvimento
interpessoal e melhor expressão oral e corporal de diversos
profissionais em todas as áreas do conhecimento. Movimenta e incentiva
ainda a economia local, na exibição dos espetáculos nacional ou
internacionalmente, na produção dos projetos, exigindo ainda um mínimo
de infraestrutura para sua exibição como: acomodação e locomoção do
público, com transportes de massa de qualidade e/ou espaços seguros para
estacionamento de veículos.
Em países sub-administrados como o Brasil, é "natural" que
existam estruturas pesadas e extremamente burocráticas, inclusive e,
sobretudo, organizando o setor cultural, que funciona em sua quase
totalidade por projetos formatados para concorrer a esse ou aquele
edital publicado, cada idéia implementada, deve ser estruturada,
conforme os requisitos exigidos pela legislação pertinente e submetido
ao crivo daquela comissão gestora do edital, ou da instituição executiva
responsável pelo fiel cumprimento do incentivo governamental que será
concedido, caso a caso, o mais detalhado possível, tanto na elaboração
quanto e, sobretudo na execução e posterior prestação de contas,
exigindo dos proponentes - nessa verdadeira babel - competências e
habilidades, de um eficientíssimo gestor.
Ora, sendo o setor conhecido universal e inexoravelmente, como uma
conjunção de agentes públicos e privados entorno de um determinado
projeto, que demanda atividades com equipes multidisciplinares, tempos
exíguos para sua elaboração e execução, poucos recursos, maior
abrangência possível de público e políticas governamentais que exigem a
inclusão sócio-cultural de comunidades marginalizadas, guarda de
documentos por décadas, prestações de contas intermináveis e
conhecimentos de leis tributárias, direitos autorais (lei n.º 9.610, de
19 de fevereiro de 1998) e das licitações (lei n.º 8.666, de 21 de junho
de 1993), além de demais regulamentos, normas, portarias, enfim, um
mundo de conhecimentos diversos, e mais, precisa enfrentar grandes e
variadas restrições que se iniciam na fase de elaboração do projeto e
perduram além da sua conclusão. Situações como estas requerem, exigem
indubitavelmente a inserção de um profissional articulador, por
formação, com visão sistêmica e por conseqüência catalisadora,
fornecendo as argumentações necessárias, enfrentando as restrições
envolvidas visando alcançar a máxima efetividade no planejamento e
execução dos projetos culturais e seus desdobramentos na economia local
haja vista ser essa uma atividade empregadora intensiva de mão-de-obra
na área da economia limpa, geradora de divisas no setor de turismo
regional, nacional e internacional.
Setores do mercado cultural como o teatro, a música erudita, a
literatura, as artes plásticas, a dança clássica, necessitam de ações,
políticas mesmo de formação de público, seja levando os espetáculos às
praças, escolas, parques, faculdades; seja inserindo-se em outros meios
de expressão artística e até em mídia televisiva fragmentos ou abordagem
de temas direcionados, visando provocar o público. Aliás, há atualmente
uma intensa discussão no meio cultural a respeito da "industrialização"
da cultura e a descaracterização de movimentos culturais locais,
alguns, já desapareceram, outros agonizam e para preservar o que o país
ainda possui de raízes, o que é muito e diversificado. Sem sombra de
dúvidas que a solução passa pela profissionalização do setor, ou de
alguns setores da cultura e do entretenimento, despertando o interesse
da comunidade local por sua história, intensificando o intercâmbio
regional e internacional para semear um futuro onde as pessoas além de
orgulharem-se de suas raízes possam vivenciá-las, trabalharem e viverem
dignamente.